domingo, 9 de dezembro de 2012

Fragmento de diário

São Paulo, 26 de fevereiro de 2012

Ouço música, ela evita que as últimas  gotas se transformem em estopins. A música tenta diminuir a tensão superficial no copo para o excedente escorrer devagar e suavemente, fazendo com que meus passos molhem o chão, mas que minhas palavras e atitudes não incitem guerras.

O que fazer quando o copo está cheio? E você só tinha um para por mágoas, lágrimas, frustrações, sonhos e não-realizações.

Estou deixando algumas dessas gotas escorrerem pelos cantos dos olhos para que as flechas que o mesmo olhar carrega não atinja ninguém.

Não quero ferir ninguém.

Tento me manter ocupada, porque o ócio traz pensamentos, e o pior, traz também lembranças.

Meus braços estão cansados de estarem equilibrando uma balança.
Um prato em cada mão.
A mão do dever.
A mão do querer.
Não sei querer o que devo.
Faço o que devo.

Não devo afetar a estrutura das costelas que foram levantadas ao meu lado.
Cada um sabe de si e seus próprios braços.
Os meus estão exaustos.
A dias que o suor tem escorrido como fonte de minha fronte sonolenta.

Quem sabe amanhã?

Estou sobrevivendo e contando minutos, contar dias ou semanas é luxo de quem tem trabalho.
Contar meses é luxo de quem recebe.
O meu único luxo é voltar ao zero a cada sessenta segundos.

Minuto a minuto.

Gota a gota.

Continuo andando,
E deixando marcas molhadas no chão.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Preconceito

Não acredito no ser humano.

Por que ainda invisto em mim?!

Será que me julgo melhor que os mortais?

Acho que sou mais preconceituosa do que imaginava,
MUITO preconceituosa. Principalmente comigo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Relativa IV

Mais uma semana.

Ai meu deus, o sabor da sexta-feira se misturando ao final do ano é realmente agridoce.
Começo a pensar que outro dia está para começar toda vez que acordo com sono e a vontade de dormir mais às vezes me faz esquecer de viver o dia de uma forma consciente.
Hoje eu estava conversando comigo descendo a rua de casa em direção ao metrô e eu me prometi a viver sem me preocupar [tanto] com o futuro.
Ultimamente a iminência do final do meu curso tem me atormentado com "o que vem depois da faculdade?"

Eu sei que não é hora para o depois, que agora é hora para curtir o dia que tenho hoje: hoje, mas falar e escrever é fácil, sendo que destes dois o primeiro é mais fácil ainda. Quem mais me exorta é aquela que me mira no espelho, o objeto que mais fujo e mais me persegue, aquele que não mente nem olha pro chão ou pro lado quando você o encara, ela sempre me olha nos olhos e isso me apavora.

O amanhã me apavora.
O desconhecido me apavora.

O meu problema é ser atraída demais pelo que me provoca medo,
não importa a altura ou a profundidade,
o que mais me faz bem na vida é me sentir viva e que a vida é uma aventura.

Toda esta rotina, este desce e sobe de rua, este deita e pouco dorme, este esquenta e esfria martita,
todo este ciclo incontínuo, se não me matar... vai me catapultar pra bem longe.

E...tenho dito!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

relativa III

Mente vazia, oficina do diabo...

E barriga vazia?!

[aula merda de parasitologia...]

domingo, 30 de setembro de 2012

Devo, não nego...

Depois de algumas horas dedicadas ao que "se tem" pra fazer, é batata, você se sente mais leve. Enrolei bastante, mas uma hora a coisa fica mais feia e o buraco é mais embaixo!

Espero não virar topera!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Relativa II

Falando do meu cotidiano, estou em busca de um novo pedaço de concreto pra morar [de novo]. Hoje vou ver uma kitnet, a primeira desta nova temporada de "um novo lar pra mim". É que vamos entregar a casa onde estamos agora até janeiro de 2013, se o mundo não acabar. Se acabar o trabalho não será necessário, mas como o fatalismo não é bem aceito pela minha mente, estamos nos preparando pra 2013. Da outra vez que tentamos fazer isso foi um fiasco, íamos montar uma república, e depois de 2 meses procurando, praticamente sozinha, o apartamento pra 5, todas deram pra traz e eu fiquei irada, além de muito cansada. Desta vez acho que não será trabalho em  vão porque não dependo de "meninas", é a família que está na situação. Assim sendo, espero não me aborrecer como da outra vez, afinal se tem uma coisa cara nesta cidade é um pedaço de laje no meio de outras tantas lajes. Apartamento era o maior produto que o Brasil daria, e nem os donos de cafezais e nem os mineiros imaginariam esta decadência!

Só pra constar nos autos: Odeio procurar kit/apê!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Relativa

Estou estudando em duas vertentes: -faculdade
                                                          -concurso público

Hey, eu sei, eu sei, é difícil de passar, um monte de vaga já é marcada, a chance é mínima, eu não consigo fazer as duas coisas direito, vou acabar me frustrando.

Blá, blá,blá...

Foda-se!

Tô inscrita, tô estudando e vou fazer a prova.
Algumas pessoas me disseram pra ir em frente, claro, tudo que a gente faz, pode ser ensaiar para ser vereador em São Paulo pelo PGAY, alguém sempre vai te dar apoio.

Não quero aqui dizer que não preciso de apoio, e que estou escrevendo tudo isso pra me auto-afirmar como suficiente. (hahahahahaha - risadas da minha irônica auto-estima).
Não, só estou escrevendo aqui porque me deu saudades, e como não estou com um espírito, digamos assim, poético, vou fazer algumas postagens "relativas", um relatórios desses meus dias mesmo, que é pra lembrar um pouco depois e rir de mim mesma. Já fiz muito isso quando menina. Por que não agora que sou quase gente?

Mas vou falar, tem dia que a coisa aperta e desistir é uma questão de quase-sobrevivência-racional. Quem pelo santo nome da mãezinha estuda pra tudo ao mesmo tempo? E não dorme não? E não tem noção não, é?!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Um novo dia em homengem a hoje

Passar um tempo longe não é de todo ruim. Não que eu seja a mestre de ver o copo meio cheio, mas não é uma má ideia olhar as coisas com bons olhos às vezes. Hoje eu tô com vontade de saudade. Com aquela vontade de brincar de esconde-esconde só pra levar um susto quando alguém me encontrar dentro do armário. Tô muito afim de sair com uma mochila nas costas e aparecer somente em sentimentos escritos a letras falhadas de pressa e ansiedade.
Anseio hoje ao movimento de pés e pernas. A barulho de corrida, de ronco de turbina de avião, de guitarra chorando e cuica sorrindo.

Hoje que tenho impaciencia com amanhã e depois, ouço música para desniquelar os nervos e dar mais astúcia às sinápses.

Hoje eu não faço ideia se vou sobreviver, mas se pelo menos consigo ver o lado bom, a vontade de saudade se transformar em desespero e depois em lágrimas de reencontro.

Então, penso que já é um ótimo recomeço de cada dia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A minha experiência de férias

Extrai um siso.

É eu sei, parece uma coisa tão comum, afinal, todo mundo já arrancou um dente.

Não me interessa as experiências alheias, o que sei é da minha, e neste ponto eu confesso: Preferia ter ficado sem!

^^

Primeiro a expectativa de esperar na sala de "espera". Não tinha uma lugar pior no mundo pra estar, ou melhor, tinha: a cadeira do dentista. E é bem pra lá que logo após eu me dirijo. Ôh vida!

Sento, conversinha pra tentar me distrair, a dentista, o especialista em extração, eu e Deus.
Nós quatro juntos pela necessidade numa manhã de quarta-feira fria. Depois de muita anestesia, jeitinho e força do especialista, e de medo meu e atenção da dentista. Alguns minutos que pareceram meses, e um dente a menos na boca. Um dia de suco. Um dia de papa. Pouco sono, muito incômodo. Um dia de sol e passeio a preço de três com dor de cabeça e desânimo.

Recuperei-me e digo: tirar dente é coisa séria, não subestime o pós-operatório!
>Agora tenho o do lado direito pra tirar, e de novo, me falta coragem! Ai ai ai.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Íntimo - terceiro dia

Uma conversa.
Franca, sincera, honesta, e todos mais os adjetivos repetidos que nos remetem só à VERDADE!

Umas palavras que a gente deve uma hora dessas, de preferencia agora, tirar das ENTRE LINHAS.

Nós não podemos ficar neste muro, achando que as coisas se arrumam por si só, este tipo de pensamento já nos trouxe tanto arrependimento e tanta ferida aberta e reaberta, e parece que a gente nunca ia aprender, porém um passo, uma palavra, e pronto, todo o resto a gente já conhece o roteiro. Eu sei o que você quer, o que precisa, você sabe do que eu preciso também, por que ficamos nos machucando? Por que tanta angustia?

Bem-vindo perdão.
Um recomeço sem nome, mas com uma melodia conhecida e alegre!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Íntimo - segundo dia

Uma presença incessante e insistente!
A ausência.
A saudade. Talvez devesse munir-te de poesia e cultivar orquídeas.
Talvez uma outra cidade, um outro dia.
Hoje tu queres afogar-te nas lembranças, uma embriagues contida e santa.
Apenas tudo aquilo que ainda está aqui. Só dentro de ti.
Todos se vão um dia.
Todos se foram ontem mesmo.
Difícil é ser o mensageiro que fica para contar as más-novas aos desavisados.
E cada nova gota de vinho, cada nova palavra proferida vezes repetidas, é mais
uma lembrança que queres desesperadamente tirar do teu peito.
Do teu travesseiro molhado.
Deste tapete imundo em que tens habitado a noite, remoendo, revivendo, retorcendo-te.


Revira-te novamente ao avesso, e com as vísceras à mostra, arfe melhor o ar aos pulmões.
Respire, vista-te. Mais um dia de trabalho espera-te lá fora, em duas horas deves tornar-te de novo aquela uma que um dia chamas-te de "eu". Hoje mal conheces.


No fundo do teu quarto, no fundo da tua intimidade. Um túmulo aberto e do avesso.
  

sábado, 23 de junho de 2012

Íntimo - Primeiro dia


Daí um dia qualquer, com cheiro de tapioca com coco, você acorda e após o café, regado sem açúcar - que é pra combinar com o seu humor mais ou menos, se dá conta de como algo está faltando.
Vai até a varanda, repara nas plantas, não é falta de água porque choveu ontem, nem adubo ou sol. É talvez seja sol, que tá fraco, mas pelo menos tem uma claridadezinha.
Vai até a lavanderia, tira a roupa do varal, põe os lençóis na máquina, passa pela sala, tira os jornais do chão. No banheiro limpa a pia suja de pasta de dente e toma um banho. Ao passar pelo corredor tira o tênis que está no caminho e vai pro quarto se trocar. Perfuma-se, veste-se, e ao olhar-se no espelho imagina como estará daqui uns anos, mais velha, mais madura...não, pensa: "Mais radiante".
Enfim, pega a bolsa e sai para a vida de uma professora-pesquisadora ocupada.

Pro que o que se faz em casa ninguém fica sabendo.

Casa, o túmulo de todas as intimidades.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

tudo com nada

Fiz este blog como um "projeto secundário". Era como o meu primeiro blog - e principal, fosse o meu diário e este aqui fosse uma sessão a parte, direcionada a poemas. Não sei se deu certo, ou não, só sei que não quero mais pensar assim. Não deveria eu, primeiramente, ter colocado a poesia em segundo plano, FALHA MINHA!
Hoje eu teria feito diferente, não só isso, mas muitas outras coisas, mas o tempo não volta, e eu não pretendo apagar este blog e fazer, outro, a ideia é refazê-lo, a base de rima ou não. A base de prosa ou poesia. A base de coisas alegres ou tristes.

Como o Hesse disse na essência de seu livro "O lobo da estepe", um homem não são dois, e sim milhares, milhões de seres.

Assim, seria eu uma boba em querer me dividir e classificar em duas. Dois blogs.
Não, não farei isso.
Não tenho gavetas suficientes para me guardar, me organizar.
Não tenho tempo sobrando pra perder tempo tentando me entender, me minimizar, me repreender.

Sou mais que isso.
Sou só humana, normal e generalizadamente anônima.

Gosto disso. Mas posso ser mais.
Muitas.

quarta-feira, 14 de março de 2012

14 de março - A poesia

A poesia é uma fortaleza, de bronze
de chumbo
de zinco.

A poesia é uma chuva, torrencial,
de verão,
de vento,
de água que banha.

A poesia é um fogo, de fornalha,
de fogueira sem inquisição,
de vela em prece,
de paixão quase adormecida.

A poesia é grito, de loucura,
de criança com fome,
de menina amando,
de liberdade de forças.

A poesia é o pai e a mãe.

A poesia é a palavra e o silêncio.

A poesia é a mão e os pés.

A poesia é em tudo poesia.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

melodiando

houve uma música
melodiando
meditando
perfumando o quarto

ouve uma música
me ditando
perfuma, ando no quarto.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

No Portão

Eles já se olharam com aquele olhar de quem sabe o que o outro quer dizer a alguns minutos, ela finge que não sabe o que os olhos dele querem dizer e que não sabe que já é tarde. Ele tem que pegar o ônibus, ir ao centro da cidade, ir para casa.

Ela sente que o domingo acabou e em algumas horas terá de levantar da cama que ainda nem deitou e correr em mais um dia de trabalho.

Ele procura o olhar dela novamente e como não consegue dissuadi-la recorre ao famoso cutucão no braço, ela olha e faz uma careta para registrar sua reprovação, não a ele, nem ao relógio digital do celular que acabou de consultar. Ela reprova a mania deste abstrato inimigo que não lhe dá uma mínima trégua, o tempo.

Ela se levanta e dá aquele sorriso sociável pros pais e ele começa a se despedir deles e ambos descem as escadas.

Eles se olham, agora é aquele olhar do quais muitas estações já presenciaram ao ver os soldados que embarcavam com esperanças vãs de retornarem aos seus lares de vilarejos inocentes após a guerra.

Eles se amam com aquele olhar que já é um velho amigo dos namorados, destes namorados.

Eles se amam com o olhar.

Ela o ama mais quando ele se vai? Ela o ama mais quando está ao seu lado? Ela o ama mais quando está na intersecção da ausência e da presença?

Impossível dizer!

Ele deixa de olha-la para fechar seus olhos simultaneamente enquanto abre sua boca que a beija com desejo de devorá-la.

Uma despedida leva minutos, mas as sensações são intensas como a eternidade.

Este é o momento no qual o inimigo abstrato do tempo perde mais uma vez. Então ele se vai, ela o olha mais uma vez através do véu do portão e depois do metódico assobio de despedida, suspira e vai ao encontro do seu ritual de preparação do sono turbulento que antecede a segunda-feira.